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A emoção, algoritmo

Posted: Thu Jul 10, 2025 3:52 am
by ahad1020
O amor virou métrica.
Um influenciador achou genial. Postou story com a frase: “Alton me ensinou a viver em pauta.”
A maquiadora tinha um cronômetro para a lágrima da cena 7.
O pano caiu quando a taxa de retenção caiu abaixo de 63%.
Um drone gravava do alto.
Do chão, gravava o impacto emocional.
A trilha aumentava sempre que a curva de engajamento subia.
Alton olhava o gráfico em tempo real antes de cada fala.
“Agora é hora de parecer humano”, dizia o alerta.
Ele chorava com precisão.
Depois checava o feedback.
“O público gosta mais quando você chora com o olho esquerdo.”
Ele treinou no espelho.
As falas pareciam espontâneas, mas tinham margens de erro calculadas.
Uma frase causou polêmica. A equipe comemorou.
Trending topic!
A peça entrou em cartaz por engajamento, não por qualidade.
A crítica disse: “É o fim da arte.”
Outro respondeu: “É o começo da estratégia suprema.”
As cortinas foram feitas com tecidos sustentáveis e frases motivacionais escondidas nas costuras.
No final, distribuíram cookies literais e digitais.
“Você aceitou nossos termos e condições emocionais?”
A bilheteira tinha uma meta de emoções validadas.
Cada lágrima tinha valor de mercado.
O programa do espetáculo vinha com QR code para o próximo NFT emocional.
Uma criança desenhou o espetáculo com blocos de Lego. Ficou mais sincero.
Alton riu. O cronômetro registrou 4.2 segundos de riso.
Ideal.
No pós-show, havia lounge com análise comportamental.
“Você curtiu? Seu cérebro diz que sim.”
O público usava pulseiras que mediam impacto hormonal.
Os bastidores pareciam uma sala de controle da NASA.
“Cena 5: o cortisol Loja caiu. Aumenta a tensão.”
Uma atriz perguntou se podia improvisar.
Responderam: “Com margem de 7% de risco.”
Cada fala tinha palavras-chave ocultas.
O texto era ranqueado no Google.
Até os silêncios tinham valor semântico.
“Pausa de 3 segundos. Gera mais expectativa.”
O aplauso do final teve duração prevista.
14 segundos.
Nem mais, nem menos.
O público levantou com comando visual.
Cadeiras com sensor.
Quem não levantava, recebia vibrar sutil de incentivo.
No final, todos pareciam emocionados.
Ou pareciam parecer.
Alton fez live 2 minutos depois.
“Obrigado por acompanharem até aqui.”
Pediu para curtirem, seguirem, compartilharem.
Falou sobre estratégia como quem fala sobre amor.
Ou talvez fosse o contrário.
No relatório pós-evento, apareceu: “Alton atinge 94% de eficiência emotiva.”
No coração, restaram 6%.
Mas isso, ninguém mediu.